



O projeto ABC do Abridor é uma mostra da diversidade de estilos da letra decorativa amazônica, presente nos letreiros coloridos dos barcos que navegam pelos rios da Amazônia. A iniciativa conta com apoio da Lei Aldir Blanc (nº 14.017, de 29 de junho de 2020), por meio do edital Pontos e Pontões de Cultura da Secult/PA.
O projeto Letras que Flutuam, que há mais de uma década pesquisa e divulga esse saber tradicional, apresenta este abecedário como forma de reunir, em um só espaço, os diferentes estilos de letras criados pelos abridores — artistas que preservam e reinventam essa arte passada entre gerações.

A Letra
Os nomes nos barcos amazônicos são pintados há muito tempo. Antigamente, as letras eram simples, pretas, com traços retos. Hoje, são coloridas, detalhadas e carregam a identidade de cada abridor — numa busca constante por destaque e originalidade.
Em algum momento do século passado, pintores da região passaram a ter contato com fontes tipográficas e, a partir dessa influência, as letras ganharam nova forma. Inspirados pela letra decorativa do século XIX, também conhecida como letra vitoriana, os artistas ribeirinhos desenvolveram um estilo próprio, hoje reconhecido pela sua beleza e singularidade.
Essas letras, sempre maiúsculas e robustas, permitem ornamentos variados: serifas alongadas, duplas ou toscanas, sombras tridimensionais e uma paleta cromática única. O grande diferencial da letra amazônica está no caqueado — os traços e desenhos aplicados no corpo da letra, que revelam a identidade de cada artista
Mais do que legibilidade, o foco da arte dos abridores é o reconhecimento visual da embarcação: uma palavra que é também imagem, um nome que se transforma em assinatura estética. A partir de modelos existentes, os ribeirinhos criaram um código gráfico próprio, profundamente ligado ao território e à cultura da Amazônia.
Os Artistas
As letras apresentadas neste abecedário foram pintadas por artistas parceiros do projeto, oriundos de diversos municípios do Pará. A proposta é ampliar o acesso do público a esse saber tradicional, sobretudo em um momento emergencial, quando muitos abridores ficaram sem trabalho devido ao isolamento imposto pela pandemia.

Participantes
Belém
Luís da Silva Souto Júnior “Bandeira”
Barcarena
Manoel Messias Cravo “Manduca”
Mario Luis Leão Gaia “Marinho”
Thiago Alves Miranda
Waldemir Caravelas Furtado
Abaetetuba
Manoel Maria Ferreira da Silva
Manoel Corrêa Pantoja “Soquete”
Igarapé-Miri
Antonio Jorge Correia Leal “Toninho”
Antonio Rubens Lourinho Portilho
José Raimundo Fernandes Leite “Biduia”
Elcio Lobato dos Santos
Ivair de Oliveira Cordeiro Mendes
João Meires Vinagre de Melo “Meires”
Robson Kennedy Machado Portilho
Soure
Alessandro da Silva Abreu “Bala”
Nelson Cigana
Odyr Lima de Abreu
São Sebastião da Boa Vista
Raimundo Valdir Borges Filho “Valdirzinho”
Ponta de Pedras
Luiz Carlos de Jesus Moraes “Kaká”
Zé Augusto Margalho de Amorim
Breves
Rosemiro de Oliveira Medeiros “Miro”
Simão Costa Sarraf “Ramito”

ALCATRATE: peças de madeira colocadas de proa a popa, prendendo-se às extremidades superiores das cavernas; elas determinam o tosamento da embarcação.
ANTEPARO: divisória vertical no interior da embarcação.
ÂNCORA: peça de ferro presa a uma corrente, composta por duas ou mais pontas que, quando jogada ao mar, serve para fixar e impedir a movimentação das embarcações.
Letra: Nelson Sampaio Pinheiro (Cigana Molhada).

BOMBORDO: o lado esquerdo de quem olha da popa para a proa (de trás para frente).
BORDA: limite superior do costado (termina na altura do convés).
BORDA FALSA parapeito do navio no convés, feito de peças mais leves que as demais do costado.
BANDEIRA: as lanchas devem possuir Bandeira Nacional, flâmulas e pavilhões a serem usados de acordo com o preconizado no Cerimonial da Marinha.
Letra: Manoel Ferreira da Silva

CAQUEADO: traços, desenhos e detalhes que o abridor de letras pinta no corpo da letra, para decorá-la e diferenciá-la.
CAVERNA: peças de madeira flexível, recurvada, nas embarcações leves, ou de madeira trabalhada nas embarcações pesadas. Uma de suas extremidades é presa em entalhes abertos na quilha, ficando a outra ligada ao alcatrate.
CASCO: a estrutura de flutuação que suporta o navio.
CONVÉS: o pavimento de uma embarcação.
COMANDO: o centro de comando da navegação.
Letra: Luiz Carlos de Jesus Moraes (Kaká)

DEQUES: os "pisos" e diferentes andares do navio.
DESLOCAMENTO: refere-se ao peso do barco.
Letra: Luís da Silva Souto Júnior (Bandeira).

Abertura geralmente retangular ou quadrada, em convés ou coberta de navio, para passagem de ar, luz, pessoal ou carga.
Letra: Alcino Dias da Silva

O mesmo que "Verdugo" - Proteção lateral e para ocultar a emenda entre o casco e o convés.
Letra: Manoel Correa Pantoja (Soquete).

GAIUTAS: um tipo de escotilha, mas com tampa translúcida, como uma claraboia.
GAVIETE: peça à proa ou à popa da embarcação, para suspender objetos pesados que estejam no fundo do mar.
Letra: José Augusto Margalho Amorim (Augusto Pintor)

HÉLICE: Estrutura metálica que possui pás e serve para movimentar a embarcação através de seu próprio giro, acoplado a um motor através de um eixo longitudinal.
HOLOFOTE: tipo de luminária potente.
Letra: Antonio Jorge Correia Leal (Toninho).

IÇAR: subir velas.
IOLE: embarcação de dois mastros.
Letra: Robson Kennedy Machado Portilho

Nas lanchas, peças resistentes que suportam os motores.
Letra: Luís da Silva Souto Júnior (Bandeira).

Trata-se de um crustáceo similar ao camarão cujo comprimento varia de 7 a 8 cm de comprimento. É encontrado em todos os oceanos.
Letra: Manoel Messias Cravo da Silva (Manduca).

LEME: peça de madeira, utilizada no governo da embarcação; é geralmente constituído de uma só tábua, e as suas partes principais são madre, cabeça e porta do leme.
LINHA D'ÁGUA: faixa pintada no casco da embarcação, que representa a região em que ela flutua.
Letra: Alessandro Abreu (Bala).

Poste concebido para a suspensão das velas.
Letra: Helcio Nazareno Jesus das Chagas.

Espaço entre a proa e a popa.
Letra: Waldemir Caravelas Furtado.

OLEADO: denominação dada aos antigos abrigos dos navegadores feitos de lona e impregnados de óleo ou tinta a base de óleo.
OBRAS MORTAS: é a parte do casco que fica acima do plano de flutuação.
OBRAS VIVAS: é a parte do casco que fica abaixo do plano de flutuação, submersa.
Letra: Manoel Correa Pantoja (Soquete).

Proa: extremidade anterior do navio no sentido de sua marcha normal; a frente do navio.
Popa: extremidade posterior, a traseira do navio.
Paineiro: espaço que fica na popa, tendo bancadas ao redor, e onde se sentam os passageiros. Geralmente, o assoalho do paineiro é formado de seções de tábuas ou xadrez, chamadas quartéis.
Letra: Ivair de Oliveira Cordeiro Mendes

Peça de madeira forte, que corre longitudinalmente no fundo da embarcação; sobre ela são fixadas as cavernas, a roda de proa e o cadaste.
Letra: João Meires Vinagre de Melo (Meires).

Pequeno motor montado em uma bandeja na popa do barco e acoplado a um eixo longo com um hélice traseiro, chamado de rabeta. É comum nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste.
Letra: Rosivaldo Gomes Correa (Colaça).

Colocada em cima da quilha e em todo comprimento, servindo como reforço da estrutura do navio; nela se abrem as carlingas para os mastros e os entalhes para os pés-de-carneiro das bancadas.
Letra: Antonio Rubens Lourinho Portinho.

TALHAMAR: nos navios de madeira, é uma combinação de várias peças de madeira, formando um corpo que sobressai da parte superior da roda de proa; serve de apoio ao gurupés e dá um aspecto elegante à proa do navio
TOLDA: cobertura de lona destinada ao abrigo da embarcação, passageiros e guarnição.
Letra: Waldemir Furtado.

Extremo da pata da âncora, para unhar a âncora no fundo da vasa.
Letra: Raimundo Valdir Borges Filho (Valdirzinho).

VELA: pano forte e resistente que se prende aos mastros para fazer andar as embarcações, ou aos braços dos moinhos de vento para os fazer girar.
VERNIZ: solução da resina em álcool ou em outras substâncias com que se cobre a superfície de certos objectos, para os preservar do ar, da humidade, ou para lhes dar brilho.
Letra: Rosemiro de Oliveira Medeiros (Miro).

Xadrez de madeira, dividido em seções chamadas quartéis e destinado a assoalhar o paineiro. Os quartéis também podem ser de madeira lisa, não havendo xadrez neste caso.
Letra: Simão Costa Sarraf (Ramito).

Nome em inglês para Iate. Um iate é uma embarcação à vela ou a motor usada para lazer, cruzeiro ou corrida.
Letra: Mario Luis Leão Gaia (Marinho).

Fundo protetor com função anticorrosiva e de uniformização da superfície de embarcações. Principal instrumento de trabalho do calafate.
Letra: José Augusto Margalho Amorim (Augusto Pintor).